Thursday, April 13, 2006

Paiamoramiga

Pai não precisa falar com o filho faça isso, ou faça aquilo. Quando o pai é pai, basta um olhar! Então, foi dessa forma que Tiãozinho aprendeu. Num dia de domingo chuvoso, ele acordou, desceu a escada e cruzou o corredor. Na sala colocou um Paulinho na vitrola pra relaxar, enquanto o café passava na cozinha. E sentou-se na copa ao lado do grande arquiteto do seu ser.

Para quem não sabe, o grande arquiteto do seu ser era nada mais nada menos que seu pai. Claro que sua mãe teve a participação nessa criação, mas ela é a Musa do Universo. Está muito além para ser retratada aqui nesse momento de qualquer maneira. Voltemos a ela numa outra hora, quando estivermos com mais calma e menos sangue no olhar.

Então, no fundo dos olhos de seu pai pôde perceber que a cerveja não bebida de ontem, não pode ser bebida hoje. Não é a mesma coisa. Percebeu que o almoço desperdiçado, não pode ser reposto. Tipo, Tiãozinho ficou uns três dias sem almoçar e quando chegou o final de semana quis repor tudo de uma ‘vez-zada’ só. Num deu e nem coube. Resolveu expandir essa tal idéia para o amor. Quando fez isso entendeu perfeitamente que o amor não pode ser postergado de qualquer maneira. Entendeu que o amor não pode ser dispensado hoje, para logo em seguida ser retomada numa esquina vazia.

Tiãozinho viajou nas lembranças e sentia que as mudanças eram de fato necessárias. Ficou muito feliz quando se recordou de ter versado com uma parceira de copo que já passa a tratá-la dentro de si como uma nova amiga. Ela diz que a melhor coisa no ser humano é a capacidade de mudança, de experimentar coisas novas, mesmo que essas experiências fiquem restritas somente à sua imaginação. Tiãozinho passou a agradecer às Deusas por terem colocado-a em seu caminho. Dessa forma fica se vangloriando por tê-la ganho, soube fazer com que o cativasse, sem que a mesma percebesse.

Mas retornando àquela idéia anterior colocada por seu pai e traçando uma convergência com as idéias da nova amiga. Aliás, nova é o ‘escambau’, tinha certeza de conhece-la de vidas pregressas, ainda mais depois da saraivada de Wilson Batista, Geraldo Pereira, Cartola (sem óculos) e tantos outros ali naquele bar que Ismael Silva costumava freqüentar..

Aprendeu, depois da recordação da amiga e do exemplo do pai, ao olhar o negrume do café naquela xícara, a voz dela inigualável e penetrante, que mostrava o amor, assim como o rio de Heráclito, impossível ser vivido uma só vez. Mas muitas e muitas vezes. Além de aos poucos ir se transformando, multiplicando e em determinados momentos se dividindo.

Brejinho, 13 de abril, 2006.

leo bento

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