Monday, October 02, 2006

Moça

Essa moça é mesmo assim. Ela entra e sai do meu coração a hora que bem entende. Sabe porquê? Por que ela tem a chave. É, isso basta. Mas essa explicação é muito simples, muito reduzida. É algo tosco demais pra explicar os caminhos que ela percorre, os rios que ela atravessa, os mistérios das florestas que ela desvenda pra atingir meu coração. Ela é a única que sai e retorna quando quer e toda vez que volta, habita sozinha. Ela sabe como se comportar lá dentro. Ela sabe fazer as outras saírem correndo. Engraçado, até pouco tempo atrás, eu não conseguia entender a magia por ela utilizada. Um belo dia, ela invadiu meu sonho trazendo em mim as águas de seu peito para dentro de meus olhos, a janela de minha alma. Então, quer entender como ela sempre faz? Vamos lá. Primeiro, faz com que eu leia em seus olhos as palavras lançadas em minha direção, essas palavras formam um texto forjado na argila ‘lamosa’ que paira no ar. Depois disso, sinto o corpo dela tremendo no meu. E o corpo dela fala, o dela e o de tantas outras, só há uma diferença. Seu corpo é meu, se confunde com o meu. É isso, o corpo dela se confunde com o meu. Se você leu até aqui e acha essa narrativa suficiente pra ela se instalar aqui no meu peito, você está completamente enganado. Cara, ela carrega uma arma que em minha completa ignorância, não bastava de uma ‘vaidadezinha’ de mulher. Então, depois de todos esses rodeios, ela chega na porta de meu coração, percebe não precisar das chaves e disponibiliza sua arma de forma que sua imagem seja refletida mais de trezentas mil vezes. As outras moças, em um número insignificante que em meu peito passeavam, saem às pressas com medo do exército de uma mulher só. Ela avança triunfante para ocupar o trono. Trono que sempre foi seu e que a espera lenitivamente no interior de um órgão que pulsa quizilante nas profundezas de meu peito.

Brejinho. 01 de outubro, 2006.
leo bento

4 comments:

  1. Começa clichê, até a terceira linha, mais ou menos. Depois - não sei se foi sua intenção, mas tampouco importa - engrena bem, se constrói e o clichê parece fazer parte, porque é uma reflexão profunda sobre algo que, na verdade, é mesmo lugar-comum: os enlaces de uma mulher sobre um homem.

    Aí, tem um ápice: "Então, depois de todos esses rodeios, ela chega na porta do me coração, percebe que não vai precisar das chaves e disponibiliza sua arma de forma que sua imagem seja refletida mais de trezentas mil vezes. As outras moças, em um número insignificante que em meu peito viviam, saem às pressas com medo do exército de uma mulher só, que avança triunfante para ocupar o trono que sempre foi seu...". Foda.

    E peca no fim, com "profundezas de meu peito". Clichê de novo, dessa vez sem efeito. Sugiro encerrar no "órgão que pulsa quizilante".

    Essa é minha opinião, essa é minha admiração.

    Por fim, só tenho a considerar que "quizilante" é bom, tem uma sonoridade forte em sua soma a "pulsa", e parece inslcusive gerar uma semântica própria. Digo isso porque não compreendi o sentido a partir do significado comum de "quizilante". Literatura é justamente gerar informação, novas atribuições de significado ao significante. Mas não entendi o sentido final de "pulsa quizilante". De qualquer forma, me parece forte o suficiente para justificar uma licensa poética, caso eu de fato tenha razão em não encontrar um sentido.

    Problemáticas de um aluno de Letras.

    Paz e bem procê também.

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  2. Sem reparar os clichês, pois não sou da área de letras e ando meio lunática com o meu novo amor. Espero que essa mulher retada exista, pois é o tipo admirável e caso não exista procure uma nesse perfil porque é essa que faz o outro ou outra feliz.É decidida, mas não perde a doçura, justamente por saber o que quer.
    Axé!

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  3. O escritor tem muito de seus personagens. Vc tb tem esse poder, de entrar, de sair, de correr, arrumar, dar paz, revirar tudo...
    Faço minhas as suas palavras.

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  4. São tantas moças... que moça é essa? Essa moça é plural, não é imaginária nem tem tanto poder assim sobre você e sobre as outras. Que moça é essa que paraliza, domina, anestesia o teu coração? Será isso mesmo? Não sei... nunca acreditei nisso e acho que nem você mesmo.
    Essa moça se coloca anônima embora você, somente você, conheça o interior do musculo que bombeia o sangue do corpo dela. Você crê nisso? Não! Nem ela...
    Mas quem é essa moça??? Ela conhece esse poder bélico, nuclear, fatídico que arrebata as negras, ruivas, verdes e amarelas do seu peito? Talvez... Mas e você? Seu corpo dialoga com o dela? Ele toma consicência do vento e da tempestade? Não...Se deixa perder na mata...
    Um dia a natureza será uma? Dirás que sou eu essa moça? Dirá para quem? Siga a flecha...

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