Wednesday, February 25, 2009

LOMBOS, PRESUNTOS E MAMINHAS


Jorge Dancinha transmitia felicidade a quem chegasse perto. Era uma energia tão positiva que em um recinto fechado, as pessoas sentiam o ar umedecido e envolvente dos bons fluídos que saíam dos seus poros. A pele preta reluzia, os olhos cintilavam e os cabelos transmitiam uma textura digna de espanto. Isso ocorreu durante um ano, graças a Décio Cambalhota, seu tio materno, dono de uma ala da Unidos do Brejinho. Quando decidiu que o sobrinho já possuía idade o suficiente para desfilar no próximo carnaval, o tio fez logo o convite que foi aceito de ‘bate-pronto’. No início do ano anterior, chamou o garoto no canto e sob as condições de tirar notas boas em todas as matérias da escola, disse que ele poderia desfilar. O menino, não teve outra opção a não ser aceitar. Afinal, queria muito vir na passarela, com as pessoas da arquibancada aplaudindo, os turistas dos camarotes jogando presentes, encantar as passistas com aqueles passos que vinha treinando desde sempre, aquele que finge que vai, mas não vai e aquele outro que não finge e acaba indo. Enfim, ia se acabar. Daria o melhor de si. Sempre foi inteligente, seu problema era a preguiça. Como sabia que o Cambalhota era exigente, limitou-se a fazer os exercícios que os professores passavam para casa e as notas foram chegando. Ao término do ano letivo, conseguiu a façanha, foi o melhor aluno do colégio e assim que saiu o boletim foi correndo entregar ao tio, que vibrou e pediu para aguardar a chegada do carnaval. Foi o que Dancinha fez. Contava as semanas, os dias, as horas, os minutos e treinava como um desesperado em frente ao espelho, em suas poucas horas vagas. Mas achava estranho o tio não levá-lo à quadra e aos ensaios. Havia alguma coisa errada! Começou a desconfiar e todas as vezes que encontrava o tio, nada. Aquilo começou a angustiá-lo, até que as fantasias começaram a ser entregues. As pessoas tomavam coragem e no morro vinham buscar em carros luxuosos com motoristas, algumas vinham de táxi, outras ainda pagavam aos garotos da comunidade pra levar a fantasia e deixar no prédio com o porteiro. Como o tempo de Jorge Dancinha era ocupado com uma série de tarefas e atividades que sua mãe lhe impunha, nem essa graninha que os outros garotos estavam conseguindo ele sentiu o cheiro. Ia fazer o que? Estava feliz demais se preparando para o desfile e ao chegar o grande dia, sua fantasia ainda não havia sido entregue. Correu igual a um louco atrás de Décio Cambalhota que falou para ele não se preocupar e descer o morro com uma roupa branca para a concentração. Foi o que ele fez. Na concentração, ele identificou vários artistas televisivos – pensou em pedir autógrafo, uma porrada de cocota, várias mulheres dessas finas exibindo lombos, presuntos e maminhas. E quase ninguém da comunidade. Parecia até que estava na praia de Ipanema em dia de semana. Mas achou melhor se concentrar e fazer alongamentos para dar um show na hora que pisasse na passarela. Momentos antes de iniciar o desfile, o tio, o encontrou sambando à doidado ao lado da Rainha da bateria, uma apresentadora de TV de ancas e curvas hiperbólicas dos pés a cabeça. Ele fazia o maior sucesso com as pessoas que o viam motivadas por seu molejo e rodopios sem ter fim. Dancinha parecia ter molas nas pernas. Mas o tio, foi logo dando-lhe um esporro, gritou com o garoto para sair dali e foi puxando pela orelha, o encaminhou para o lugar que era seu de direito. Segundo o tio, o menino desfilaria atrás do carro abre alas. Jorge Dancinha o empurraria com o pessoal da ala chamada FORÇA. E isso se daria até a dispersão.

Brejinho. 26 de fevereiro, 2009.
leo bento

4 comments:

  1. que chato....pensei que ele era o puxador do samba.. não gostei....
    sua inspiração e bem realista em suas andanças carnavalescas....
    bj ana

    ReplyDelete
  2. penso que seus textos...são meios machadianos ,totalmente descritivos e da uma sensação de entra na história ou mudá-los.....
    com misturas de suspense com humor;;;;de preto....
    enfim...e um texto bentiniano

    ReplyDelete
  3. que coisa triste, porém hilária...hahahaha

    ReplyDelete
  4. O nome dos seus personagens são um capitulo a parte: Delcio Cambalhota, Zé escurinho , Jorge Dancinha, muito bom. Só falta uma estória sobre o Rogério Kamel e o Zé carlos Magnoli.

    Julio!

    ReplyDelete