Sunday, June 04, 2006

Um tal peralta

Chico Peralta era um caboclo magro, com músculos bem definidos, estatura mediana e dono de um sorriso penetrante que nem ele agüentava quando refletido no espelho. Possuía a pele preta e macia da cor do bronze. A oleosidade era tal que reluzia até no escuro. O cabelo era ‘blackpowertencializado’! Um dia desses de sábado ensolarado desceu o morro apressado como de costume, como não podia deixar de ser cumprimentava um aqui, outro ali e arrancava suspiros que nem ele acreditava. Quando chegou no asfalto ele agachou, pôs a mão no chão e se benzeu. Aquilo pairava como uma espécie de proteção. E protegia mesmo, o cara já passou por cada uma. Mas, não estou aqui pra falar sobre suas valentias, deixemos isso para um outro momento. Lá vai Chico sempre atento, mas a primeira encruza que dobra sente algo estranho, a vista vai ficando turva. Quando olha pro lado lembra de um sonho que teve naquela noite. Sentiu um calafrio seguido de arrepio digno de quem está de fato assustado. Então vamos ao sonho. Lembra onde Chico está? Pois é, nessa esquina tem uma garrafa de cerveja devidamente repousada ao lado de um maço de cigarro acompanhado com uma caixa de fósforo cheinha. Igualzinho ao sonho, só que lá ele ia andando cheio de ginga de uma forma muito diferente de seu andar habitual, se aproximava do despacho e abria a cerveja de forma magistral. Logo, acendia um dos cigarros para acompanhar. Acabada a cerveja e o cigarro, Chico volta do sonho olhando assustado pra esquina, pra garrafa, para o maço de cigarro, para os fósforos, para as pessoas que ali estavam e para a cena. Segue seu rumo meio sem direção com um zumbido no ouvido que o faz sentir lá no fundo uma risadinha gostosa digna de quem está muito, mas muito feliz.

Esse episódio esquisito da vida de Chico definiu algumas passagens como essa que se constrói. Lembra de ter lançado sorrisos mais precisos que flechas em várias direções. Todos os seus sorrisos atingiam ao alvo, nunca ganhou um não. Mas o que gostava mesmo era de receber as flechadas. Achava mais emocionante. A conquista é uma arte e cada um tem a sua forma de exerce-la. Aqui, o leitor ou a leitora já deve saber do que estou falando. É, estou falando disso mesmo. Do dia da caça e do caçador. E isso é cruel! Pois, no dia da caça o caçador passa fome. Mas quando o caçador tem seu dia iluminado por uma flecha dourada, a caça morre. Então, Chico desbravou muitas matas para sanar sua vontade voraz de conquista. Só não sabia que um dia encontraria uma dentre tantas filhas do vento em seu caminho que o mudaria pra sempre. Buscou longe e olha que o primeiro olhar foi uma troca de sorriso estonteante. O tempo parou! Parado também ele ficou quando a moça mostrou uma de suas facetas que em breve será relatada.

Desculpem-me já entrar nos ‘finalmentes’. É que estou afobado para chegar onde quero. Lembre-se que a pressa anda lado a lado com a perfeição. Num quarto improvisado de um amigo qualquer, os dois já eram um só. Escorriam prazer entre os corpos negros suados. Ela com sua pela preta bem retinta e dona de um corpo que eu nem sei definir, qualquer tentativa em forma de palavras estaria fadada ao erro. O cabelo ‘blackpowertencializado’ de Chico enroscava nos ‘lockes’ da amada. Apertões ‘percorrentes’ de corpo adentro fazem gemer até o último dos crespos pêlos pubianos. Ele vai beijando-a de forma carinhosa. Ali, é como se estivesse fincado num tabuleiro de xadrez onde tem total domínio das possibilidades múltiplas de lances que poderiam acontecer. Beija o pescoço, escorrega os dentes na boca dela, esfrega a mão em suas ancas pausadamente, aperta seu corpo contra o dela e a menina já sem fôlego se entrega como nunca havia feito em outrora. Se entrega tanto que quando percebe o que está acontecendo já é tarde. Não está mais dona de si. Aqui, Chico pensa ser o dono da situação. Mas, só pensa. Nesse momento, ela arruma uma alcunha pra ele. Seu beijo muda, assim como o gosto e o olhar também. Em seguida pede um cigarro e uma cerveja. Chico estranha, ela não fuma. Ela repousa as mãos na cintura esculpida com muito esmero. Relaxa os ombros fazendo movimentos repletos de sensualidade. Inclina a cabeça para trás vagarosamente. Ao mesmo tempo segue revirando os olhinhos e reverencia Chico Peralta como “o santo de cama das mal amadas”. Uma estridente e maravilhosa gargalhada é ouvida, depois ela o cumprimenta e pergunta baixinho sorrindo:

- Ih-ah-ra-ra-ra-ra-ra-ra!!! Ih-ah-ra-ra-ra-ra-ra-ra!!! Boa noite seu moço. Ei, sabe com quem ta falando? O moço sabe quem sou eu?

Brejinho. 03 de junho, 2006.
leo bento