Sunday, July 27, 2008

Homens de minha família

Tenho vinte e oito anos, mas carrego em minhas costas o peso da idade de homens negros que me possibilitaram parte da minha herança genética, seja dividindo, seja compartilhando. Homens negros que passaram por todos os desejos dos vinte, atravessaram as aventuras dos trinta, conheceram as desventuras dos quarenta, mas não passaram dos cinqüenta. E eu já me sinto um senhor com meus setenta e lá vai fumaça. Sinto dores nas costas e um sono perturbador durante o dia. Estou ranheta e me orgulho de, ainda aos vinte, poder me definir como um homem velho, cansado e doente. Sem nenhum ar de derrota. Homens negros de minha família que fizeram de tudo pra botar o sustento na mesa, ensinar o caminho certo a quem precisava de caminho. Minha missão está cumprida! Encontro vocês na próxima curva. Mas se acalmem! Não precisam ficar assim tão felizes. A diabetes e a pressão alta, parceiras de longa data que vocês desprezaram, não sabem meu nome e nem o meu endereço.

leobento

Brejinho, 27 de julho de 2008