Wednesday, March 23, 2011

Falta de respeito I


Na última sexta-feira, fui ao Centro resolver um problema, que nem me recordo mais o que era. Mas, foi agradável reencontrar meu amigo Zé Boa Praça para saber das novidades. Pois, desde que chegou da Bolívia, ainda não conseguimos colocar a prosa em dia. Assim, que cheguei no local marcado, a Igreja do Rosário, localizada na Rua Uruguaiana, mais precisamente num bar posicionado atrás da Igreja, me sentei e pedi ao Baixinho uma água. Ele me olhou meio de banda e perguntou se estava tudo bem. Respondi que sim e ele acabou trazendo uma garrafinha com um copo cheio de gelo, quando colocou sobre a mesa, falei com ele em voz baixa que era para iniciar bem os trabalhos porque a noite prometia. Que nada, eu estava era o sacaneando mesmo. Pois, há algumas semanas descobri ser portador de uma esofagite zicabraba, logo não posso mais ingerir bebidas alcoólicas, fumar, comer gordura e uma série de outras coisas que eram bem vindas a minha mesa. Mas isso, não vem ao caso. Assim como eu, vários amigos da época da faculdade estão passando pela mesma experiência (nada agradável), acho até que essa doença já pode ser elencada como o "mal desse século". Quando menos espero, o Boa Praça entra no recinto. Todos o cumprimentam, abaixam o chapéu, o olhar e quando ele senta a mesa, o Baixinho já trás uma garrafa com um líquido meio amargo, mas que bem gelada deve ser uma maravilha. Põe sobre a mesa com dois copos dizendo que um sujeito do outro lado do bar pagou. O Zé aceitou e bebeu, ainda comentou que o sujeito poderia pagar outra, mas logo terminado o comentário, o Baixinho repetiu o gesto anterior dizendo que agora era outro que pagava a bebida. Nos entre olhamos meio desconfiados, mas achamos melhor não comentar. E o Zé foi bebendo antes que esquentasse. Para minha agonia, além de ter que agüentar o Baixinho e o Boa Praça me sacaneando, tive que pedir um copo de leite (ainda por cima desnatado) para dar continuidade a minha dieta. Depois de algum tempo ele foi me explicando como era interessante a experiência de estar estudando em um país vizinho, pois sua ida à Bolívia, ao contrário do que muitos pensam, é para fazer o doutorado. Num primeiro momento pensei que ele estivesse mesmo era querendo se aprimorar na arte do tango, mas foi uma idéia leviana a minha, ainda mais na Bolívia que tem fama de produzir outras coisas como a guerra do "coco do pombo", mais conhecida como a guerra do Chaco. Mas vamos deixar esses devaneios históricos para outro momento e nos ater ao que interessa. No ápice de nossa conversa ele mencionou que foi condecorado pelos amigos de classe e pelos professores ao saberem que ele era o MINISTRO DA FELICIDADE, com uma placa de bronze que tem carregado dentro da bolsa para cima e para baixo. Mostrou pro Baixinho, pra galera do bar, acredito que deva estar mostrando até para os motoristas e para os trocadores dos ônibus que pega quando vai trabalhar. Depois de duas horas e o relato fluindo, precisei me alimentar. Logo saímos da Igreja em direção a uma lanchonete que vende umas coisas naturebas. Tava cheia, e o Boa Praça precisava sacar uma grana. Fomos em direção à Cinelândia. Quando chegamos na Praça havia uma galera reunida, levantando bandeiras, fazendo discursos e logo avistamos mais destacados dois amigos. Paramos para perguntar como estava a vida e tentar entender o porque da movimentação. Eles demonstraram um olhar perturbador e foram logo dizendo que eram contra. Depois disso, não precisaram dizer mais uma palavra, por que o ministro sacou a placa de bronze os mostrou, guardou e começou a falar coisas sobre a liberdade de ir e vir, de direitos humanos e de coisas que edificam . Ficamos ali meio distraídos com aquelas palavras muito úteis e interessantes para o momento, quando me vi cercado pelas pessoas que estavam na manifestação e queriam ouvi-lo. Todos mudaram o semblante, a forma de olhar e logo passaram a exibir um leve sorriso no canto da boca. Mas como nem tudo são flores, essa maravilhosa galera chegou acompanhada (ou talvez cercada de) policiais que saíram, deus sabe de onde, ( e com certeza com os ouvidos, e olhos bem vedados ao ponto de não ouvirem, e nem verem o Ministro). Foram logo gritando: - ABRE A BOLSA! ABRE A BOLSA! Passaram a revista em todo mundo que estava na Praça, não aliviaram nem a autoridade máxima do Ministério, que no meio da confusão ainda conseguiu desejar boa noite. Mas não adiantou de muita coisa, pois ao encontrarem a placa de bronze, pesando uns cinco quilos, escrita em castelhano, a autoridade policial não conversou, meteu o ministro na caçapa e o levou para delegacia com direito a tapinha na cabeça e tudo. Desde então, não tive mais contacto com o meu amigo. Ficou preso todo o final de semana, sendo liberado ontem, quarta-feira. Foi preso sob a acusação de ter subvertido a ordem contra a visita de um presidente que estava a caminho do nosso país. Mesmo nessa situação, não saiu mais do noticiário. Zé Boa Praça esteve na capa dos jornais com os cabelos raspados e fazendo a cabeça de outros presos para organizarem uma manifestação pacífica e com muita alegria no presídio. Mas que não deu muito certo. Esses Agentes Públicos, que não combinam com alegria, não gostaram muito da idéia e o expulsaram do presídio. E assim ficou registrado nos anais da história o primeiro caso de um sujeito que foi colocado em liberdade sem a necessidade de Habeas Corpus. Afinal de contas ele é MINISTRO, né?!


Essas sãos imagens do Ministro da Felicidade. A esquerda, o Ministro depois do cárcere. E a direita momentos antes de me encontrar.



leo bento
Realento. 24 de março, 2011.

Friday, March 04, 2011

SÃO PAULO pode ser uma opção


Já que não estarei no Rio, preciso (ao menos) desejar bom carnaval aos que ficam. Infelizmente, esse ano, fui obrigado a me retirar estrategicamente dessa ”maravilha de cenário”. A decisão foi dificílima, porém justa. Tudo começa quando, em minha casa durante um almoço familiar, meu amigo Júlio Malandrinho convida a mim e ao Mano Rogério Pança Cheia para participar de um protesto. De bate pronto gostei da idéia, já que existe uma série de injustiças por aí e ficar calado diante delas não é bem a minha praia. Já estava super animado com a idéia de vomitar palavras de ordens contra os ‘reaças’ de plantão. Então, sem que eles percebessem eu já havia entrado no quarto trocado de roupa, enchido minha mochila com coquetéis ‘molotoves’ verbais e máscaras metafóricas, caso viesse ocorrer um confronto mais enérgico. Eu já tava lá em praça pública gritando palavras de ordem contra o sistema, contra a nobreza, contra a burguesia, a monarquia, a república e também contra o ensino médio profissionalizante que me fez perder tempo quando quis entrar para uma Universidade Pública. Quando conclui esse pensamento, Malandrinho me puxou pelo braço e perguntou se eu tava escutando. Óbvio que não! Naquela altura eu estava era muito longe , mas tive que voltar. E quando chego à mesa em que estive sentado todo o tempo, ele disse que o protesto, não era bem o que estávamos pensando. Pairou a dúvida, eu e Rogério nos olhamos e perguntamos: Vai ser o que então, essa porra? Ele, meio sem graça, foi se explicando , dizendo que na verdade iríamos , era acompanhar um bloco da Zona Sul que falava algo sobre um sujeito racista (para os que sofrem com o racismo) mas que para outros não era (tão) racista assim, enfim... Pança Cheia já escaldado e experimentado dessas atividades, resolveu a questão com um NÃO bem grande. Alegou que esses blocos são compostos por fortões que num assopro derrubaria aos três e quem mais estivesse junto no momento. E de fato ele tinha razão. Não resolvemos pagar para ver. Continuamos comendo o peixe com molho de camarão que por sinal estava maravilhoso. E não falamos mais nisso. Mas a estória não terminou aqui. Pois, na semana seguinte ao tal desfile todos os jornais estamparam fotografias do rosto de Júlio Malandrinho totalmente desorientado sendo preso pelo efetivo policial que fazia a segurança dos bacanas do bloco. Ele chegou lá com uma faixa falando alguma coisa contra o racismo e o efeito foi o contrário. As autoridades policiais de plantão que não sabiam interpretar texto entenderam que Malandrinho fazia odes ao racismo e resolveram levá-lo a presença do Senhor Doutor Delegado para que prestasse esclarecimentos. Com aquele seu jeito mole de falar convenceu o interrogador do óbvio. Logo que foi liberado, fez um exame de consciência e resolveu não passar o carnaval no Rio de Janeiro como de costume, pagando passagem e estadia de seus amigos para curtir o melhor carnaval do mundo em São Paulo. Pois lá, ao menos poderiam transitar em ruas sem congestionamento, teriam banehiros públicos suficientes quando pintasse o aperto, visitariam uma série de museus e espaços culturais que estarão abertos ao longo do extenso feriado, com a idéia fixa de não se depararem com nenhum imprevisto.

Rogério, Giselle, Lu, Léo, Carol e Julio Vitor da Costa e Silva.



Realengo. 04 de março, 2011.
leo bento