Sunday, August 27, 2006

O sorriso vira deboche sem efeito!

Há aproximadamente uns quinze dias, todas as noites venho pra cama, durmo e antes do alvorecer levanto sem conseguir acordar. Mesmo assim, espero a aproximação dos primeiros raios solares lançados em minha direção. Automaticamente, eles me iluminam. Trazem em mim a sensação de poder que poucos são capazes de compreender. A sinfonia sonora anarquicamente organizada dos vizinhos[1] que habitam a amendoeira em frente ao meu quarto, traz a paz necessária que minha pele preta macia e bonita precisa para passar pelo processo preparatório[2]. Processo de alisamento que o oxigênio duplamente hidrogenado[3] faz no meu corpo e em ‘minhalma’. Despertado, vejo no refleteiro[4] parte do que sou, desde que me entendo como gente, esse instrumento nunca foi uma via de mão dupla. Antes de sair e encarar o grande cara de ferro[5], visto o mais alvo pano que tenho para imprimir nos outros a ausência das cores. Alguns irmãos usam liamba pra relaxar. A maioria das irmãs reclamam de toda desventura que vão aturar. As tiazinha de feição cansada servem de alicerce pro meu andar. Enquanto isso, um bando de zambo vai o tempo todo falando em nome de um deus que escravizou as idéias cognitivas de nossa antigo pensar. Lá no meu destino, recebo um olhar pálido e fulminante seguido de um sádico dedo para o conta tempo[6] apontar. Simultaneamente, pergunta o por que do sorriso. Preciso nem responder. Meus ancestrais pretos retintos depositam na encruza de minha boca esse velho falar:

- Engana-se quem vislumbra um imenso sorriso estampado em meu peito. Porque isso num é sorriso, não. É deboche sem efeito!

[1] Pássaros.
[2] Momento antes do banho.
[3] Água.
[4] Espelho.
[5] Trem.
[6] Relógio.
Brejinho, 25 de agosto de 2006.
leo bento