Belford Roxo, 23 de abril de 2006.
Leonardo Bento
CARO LEITOR OU LEITORA, NÃO PRECISA SER MUITO ATENCIOSO OU ATENCIOSA PARA PERCEBER QUE ESTE BLOG COMPORTA OS TEXTOS QUE leo bento DEIXA ESCAPAR DE SEUS POROS EM UM PROCESSO PARECIDO COM A TRANSPIRAÇÃO.
Pai não precisa falar com o filho faça isso, ou faça aquilo. Quando o pai é pai, basta um olhar! Então, foi dessa forma que Tiãozinho aprendeu. Num dia de domingo chuvoso, ele acordou, desceu a escada e cruzou o corredor. Na sala colocou um Paulinho na vitrola pra relaxar, enquanto o café passava na cozinha. E sentou-se na copa ao lado do grande arquiteto do seu ser.
Para quem não sabe, o grande arquiteto do seu ser era nada mais nada menos que seu pai. Claro que sua mãe teve a participação nessa criação, mas ela é a Musa do Universo. Está muito além para ser retratada aqui nesse momento de qualquer maneira. Voltemos a ela numa outra hora, quando estivermos com mais calma e menos sangue no olhar.
Então, no fundo dos olhos de seu pai pôde perceber que a cerveja não bebida de ontem, não pode ser bebida hoje. Não é a mesma coisa. Percebeu que o almoço desperdiçado, não pode ser reposto. Tipo, Tiãozinho ficou uns três dias sem almoçar e quando chegou o final de semana quis repor tudo de uma ‘vez-zada’ só. Num deu e nem coube. Resolveu expandir essa tal idéia para o amor. Quando fez isso entendeu perfeitamente que o amor não pode ser postergado de qualquer maneira. Entendeu que o amor não pode ser dispensado hoje, para logo em seguida ser retomada numa esquina vazia.
Tiãozinho viajou nas lembranças e sentia que as mudanças eram de fato necessárias. Ficou muito feliz quando se recordou de ter versado com uma parceira de copo que já passa a tratá-la dentro de si como uma nova amiga. Ela diz que a melhor coisa no ser humano é a capacidade de mudança, de experimentar coisas novas, mesmo que essas experiências fiquem restritas somente à sua imaginação. Tiãozinho passou a agradecer às Deusas por terem colocado-a em seu caminho. Dessa forma fica se vangloriando por tê-la ganho, soube fazer com que o cativasse, sem que a mesma percebesse.
Mas retornando àquela idéia anterior colocada por seu pai e traçando uma convergência com as idéias da nova amiga. Aliás, nova é o ‘escambau’, tinha certeza de conhece-la de vidas pregressas, ainda mais depois da saraivada de Wilson Batista, Geraldo Pereira, Cartola (sem óculos) e tantos outros ali naquele bar que Ismael Silva costumava freqüentar..
Aprendeu, depois da recordação da amiga e do exemplo do pai, ao olhar o negrume do café naquela xícara, a voz dela inigualável e penetrante, que mostrava o amor, assim como o rio de Heráclito, impossível ser vivido uma só vez. Mas muitas e muitas vezes. Além de aos poucos ir se transformando, multiplicando e em determinados momentos se dividindo.
Brejinho, 13 de abril, 2006.
leo bento